sexta-feira, 26 de março de 2010

Violência X Vida

Violeta, violácea
Violência, violar
E o homem amordaçado
Exposto a tudo.

A brisa,
A arma
Mostrada sem qualquer constrangimento, às 6:45 da manhã
Em plena sexta-feira
Em dia comum,
Na ida para o trabalho,
Para o batente
Sob um céu azul
Em pleno Rio de Janeiro
O que fazer diante de tudo isso?

Do céu, apreciar
Da mão empunhando uma arma
Torcer para que não aperte o gatilho
Ou da bala, desviar...


Hoje escapei do alvo,
Mas meu corpo treme
Sente as marcas do constrangimento imperante nas ruas da cidade maravilhosa!

terça-feira, 23 de março de 2010

Um conto fantástico

De repente, olhei fixamente para o rosto do Erê...

Ele, sem entender nada, olhou-me com ar de surpresa - "O que ela está pensando ou vendo?", "O que foi, posso saber o que está passando pela sua cabeça?"
Por favor, Erê, levante um pouco a cabeça e incline-a para trás...
Por que, pergunta ele, ainda sem entender nada...

Mais uma vez, peço para que erga a cabeça. Meio reticente, acata meu pedido.
Então, tentei visualizar suas narinas, e nesse momento eu é que fiquei estranhamente surpresa, sobressaltada, boquiaberta...

- O que foi? - perguntou ele se desesperando.

Respondi: Precisamos ir com urgência a uma emergência.
O que houve, o que você viu em meu nariz?
Tem um corpo estranho dentro de seu nariz. Você não estava ou está sentindo nenhum desconforto? E ele respondeu: Não.

Minutos depois chegamos à emergência mais próxima e preenchemos o boletim de entrada. Na sala da recepção as pessoas falavam muito e em tom alto para o local.

Sentamos e aguardamos. Depois de alguns minutos fomos chamados por uma enfermeira que nos conduziu a um consultório e solicitou que o Erê se deitasse na maca. Em seguida, colocou uma bandeja de pequena cirurgia sobre a mesa de cabeceira e antes de se retirar disse que o doutor Manoel logo viria atendê-lo. Fiquei bastante preocupada, não só com o que vi na narina do Erê, mas com o ambiente impróprio para o tipo de procedimento, que a meu ver, deveria ser o mais limpo possível. Pensei: não seria o caso de ser atendido em um centro cirúrgico? O ambiente aqui não é propício para o atendimento em questão, já que provavelmente envolverá um procedimento bastante invasivo.


Minutos depois, entra no consultório, um senhor que mais parecia um feirante, exceto pelo nome - Dr. Manoel Trancoso - bordado em linha azul no bolso do jaleco branco, encardido e sob este, uma camisa vermelha com os seus três botões anteriores sem abotoar, deixando à mostra o seu peito onde podia ser visto uma corrente grossa, dourada, nada comum a postura de um profissional médico. Os cabelos com aspecto de sujo, tamanha a oleosidade, o rosto ensebado, as unhas grandes e sujas, os sapatos velhos e sem cuidado algum... Pensei com meus botões - todos abotoados: Meu Deus, seja o que senhor quiser!!


O "doutor Manoel" olhou para mim e para o Erê, esboçando um sorriso de satisfação. Abriu a bandeja e começou a mover as pinças sobre a face do Erê.


Eu, que sempre me senti mal ao ver sangue – e dessa vez não foi diferente – comecei a ter a sensação de desmaio (suor frio, palidez, náusea...) e por mais que desejasse olhar para o que o médico estava fazendo, alguma coisa me impedia.


Percebi que calçou luvas (graças a Deus!!) e que as mesmas estavam ensanguentadas... Precisei olhar para o outro lado, pois não queria ser mais uma paciente a causar trabalho em hora tão imprópria.

Algum tempo se passou... Será que desmaiei?!

De repente, o médico chamou a enfermeira Olivia e pediu para que ela me levasse para ver o corpo estranho retirado da narina do Erê. Ao olhar, primeiramente para o Erê, fiquei impressionada com a deformidade de seu rosto... não havia mais nariz, o rosto ensanguentado e nas mãos enluvadas do médico dois ossos que segundo ele, só seriam recolocados no dia seguinte, em novo procedimento. Assustei-me com isso e, mais ainda, com o que vi sobre a pequena bandeja de cirurgia: um pequeno cacto e ao seu lado um besouro de aproximadamente 3 cm, de asas verde-cintilante, com as patinhas para cima e que ainda se mexiam...

Então, perguntei ao médico o que aquele besouro fazia ali, já que o corpo estranho que vi na narina era apenas o cacto? Ele respondeu: - Ora, minha filha, o besouro foi o responsável por plantar o cacto na narina ou você acha que o cacto voaria sozinho para a narina?

Fiquei em silêncio, sem esboçar qualquer resposta, quando senti o sol entrar pela fresta da janela e me acordar.

Que sonho louco, ou melhor, graças a deus - foi um pesadelo!!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Noel e sua foto

Noel chega esbaforido. Também, com toda a chuva que cai lá fora, é impossível não se atrasar. Está tudo parado. Os carros ongestionados, uma multidão de guarda-chuva abertos, o povo irritado com seus pés molhados, ainda mais com a sensação de que se trata de água de chuva misturada ao esgoto que vem de um bueiro entupido - o cheiro é característico, dá nojo.

Noel chega à portaria do prédio rua Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Na recepção é solicitado pela recepcionista Terezinha, uma jovem senhora, assim identificada por seu crachá a apresentar sua identidade e para se posicionar a frente da câmera para a foto.

Noel, se surpreende com o pedido - Como? Onde colocarão minha foto? Isso é constrangedor e se pergunta: para que serve a minha identidade, já apresentada? O documento não é suficiente para provar que sou um cidadão brasileiro, cumpridor dos meus deveres?

De repente a "ficha cai" - hoje, com o que está acontecendo, com tamanha violência, é melhor obedecer.

Observa que sobre a mesa da recepcionista há uma linda pimenteira roxa. Como é extremamente supersticioso, pensa: "e se ela não gostar do meu questionamento e resolver colocar meu nome na boca do sapo ou escrever meu nome num papel e depositar no refrigerador de sua casa ou identificar um boneco com meu nome e alfinetá-lo todo?" Diante de todos esses argumentos, desiste do questionamento, e se dirige ao seu destino: o consultório dentário.

Depois de autorizada sua entrada - Ufa!! - liberada a catraca após passar o cartão que lhe foi entregue (agora, possui uma senha de acesso ao respeitoso prédio), entra no elevador, aciona o terceiro andar. No corredor, procura a sala 303, aperta a campainha. Segundos depois, é atendido por Alessandra, uma auxiliar do consultório, que se encontra em estado gestacional - lá pelo 6º mês...

Alessandra, a bela auxiliar, de pele bem clara, cabelos compridos e louros, usa um jaleco azul claro, ainda abotoado, porém, em razão do seu estado encontra-se um tanto, ou melhor, bastante apertado. Mostra-se simpática, indica-lhe o sofá e informa que a doutora Flávia logo irá chamá-lo.

Noel, após a saída da auxiliar, dá uma olhada na sala da recepção e acha bastante interessante a estante com os vários tipos de escovas de dente ali expostas; de vários tipos e modelos: para crianças, para adultos, para cuidados mais intensivos, sendo a maioria para a escovação de rotina. Pensa: elas devem ser adquiridas nos famosos congressos de odontologia ou fornecidas como brindes pelos representantes de produtos odontológicos que visitam o consultório regularmente.

Enquanto espera ouve a conversa de três mulheres vinda do corredor que dá acesso aos consultórios. Assunto - gravidez e ultrassonografia. Comentam sobre a imagem de seus bebês . Uma fala que ele estava com toda a mão na boca, a outra, que chupava o próprio pé, e outra, que seu bebê estava quietinho, como que dormindo. Todas empolgadas. Noel, então, vai imaginando a cena, como se fosse uma foto.

Por alguns segundos, Noel pensa que errou o endereço e está em um consultório obstétrico

De repente, a porta que dá acesso ao corredor se abre e uma outra auxiliar de consultório, Joelma, também em estado gestacional, por volta do 4º mês, chama-o e o conduz ao consultório e pede para que se sente na cadeira do dentista.

Logo em seguida entra no consultório a doutora Flávia, também grávida. Pelo que observa está prestes a ter o filho. Muito simpática, atenciosa, examina sua boca e explica alguns procedimentos necessários. Solicita uma radiografia panorâmica da face.

A doutora Flávia fala que está prestes a se afastar do trabalho e que o Dr. José Henrique dará prosseguimento ao seu acompanhamento. Chama o referido colega e o apresenta. Após o atendimento, Noel, dirige-se à recepção para agendar seu retorno. Lá, acaba presenciando a chegada da esposa do dentista José Henrique, assim como assiste o comunicado de que ela também está grávida, que o resultado do teste foi positivo. A comoção foi geral!

Noel, enquanto aguarda o elevador, pensa nas fotos, na fotografia de sua face, nas quatro mulheres grávidas, na ansiedade de cada uma até poderem ver seus filhos definitivamente em seus braços, na sua imagem filmada enquanto anda pelo prédio... São tantas câmeras.

Na recepção, ao devolver seu cartão de visitante, dá mais uma olhada na pimenteira roxa e olha fixamente para o rosto da recepcionista Terezinha.

Ao sair do prédio, entra no primeiro restaurante e pede o prato mais apimentado da casa.

terça-feira, 16 de março de 2010

Quem é ela?

Quem é ela?
Sorrateira, mascarada, anunciada, de qualquer jeito
Não tem jeito... chegará.
Impiedosa, maquiada, lastimada,
Silenciosa, abrupta,
De qualquer jeito,
Não tem jeito,
Tocará você
E fechará seus olhos para sempre
E te levará...
Para onde?
Não tem jeito...
Através de um soco, uma arma branca, um tiro certeiro,
um amasso, uma queda, um choque, uma célula acelerada, uma picada... exagerada, uma labareda, uma solução venosa, um travesseiro, uma dor penetrante... insuportável no peito ou na alma.
Não tem jeito,
Chegará a hora
Que te levará.
Atenção: o último que sair, apague a luz.

Obs.: dedicado a "Geraldão","Casal Neuras", "Dona Marta" e tantos outros.

terça-feira, 9 de março de 2010

Manjar dos deuses

As receitas são seguras?
As dosagens corretas?
Tudo se apresenta na medida certa?
Existe uma fórmula para o amor?
Se sim, por que não a encontramos nos livros dos grandes chefes?
É necessário uma química,
Uma balança,
Um bom senso,
Tudo e mais um pouco,
Pouco e menos ainda,
A temperatura na medida,
O cheiro adequado,
Um paladar apurado,
Uma cor agradável,
Uma pitada,
Um pitaco,
Uma xícara, um copo, uma colher de sopa, de café,
Uma colher de pau
E na briga de marido e mulher, ninguém deve meter a colher...
Se tudo isso é necessário,
Como decifrar e saborear do manjar dos deuses sem sofrer?

quarta-feira, 3 de março de 2010

Graça

Graça!

Ser uma graça
A graça de não ter graça.
Parece loucura,
Receber uma graça de graça
Qual o motivo de tanta graça?
Da graça de não ter graça?
Qual é mesmo a sua graça?
Onde está a graça?
Ainda não sei...
Só sei que me chamo Graça,
Enquanto você perceber em mim essa graça.
Essa é a verdadeira graça da graça.
Então, continuo aqui toda sem graça.



Graça!

Ser uma graça
A graça de não ter graça.
Parece loucura,
Receber uma graça de graça
Qual o motivo de tanta graça?
Da graça de não ter graça!
Qual é mesmo a sua graça?
Onde está a graça?
Ainda não sei...
Só sei que me chamo Graça.
Essa é a verdadeira graça da Graça.
Então, continuo aqui trabalhando para pagar, 
inclusive, a minha diversão...
Que não é de graça e, sim, 
Paga pela Graça!
(Márcia Juannes).
(Márcia JuAN

segunda-feira, 1 de março de 2010

Nisso, naquilo e mais um pouco

Existe poesia em tudo...
Naquilo,
Nisso,
No conhecer,
No desvendar,
Em cada olhar...
No seu, no meu,
Entre os olhares.

Diariamente

A balança, a borra,
Um expresso milimetricamente dosado
A mão treme, o café derrama.

A borra se vai pelo ralo
Não é motivo para um conflito:
"Graças a deus!".

Um conhecer diário
Sinto a sua mão
A fita branca cortada

Quanta coisa ainda por vir...