quarta-feira, 30 de março de 2011

Mãos entrelaçadas

As mãos que abraçam
As mãos que seguram
As mãos que amassam
As mãos que esmagam

As mãos que regem
As mãos que acariciam
As mãos que trazem o dedo em riste
As mãos que oprimem

As mãos que afagam
As mãos que entrelaçam
As mãos que:
Amassam,
Esmagam,
Sufocam,
Que apertam o pescoço
Que fazem um nó na garganta
Seco, duro
Jamais desfeito
Um nó na garganta.

Uma mão, um carinho, um afago
É tudo o que ser quer!

Mas o nó não se desfaz sozinho
Está lá... na garganta
Seco, duro
Pesado
Que arrasta, a cada dia,
O pensamento para um saudosismo amargo
Um nó jamais desfeito.

Lá está ele, o nó na garganta
Liberando diariamente sua dose de amargura
E o tempo, passa...
Passa entre os dedos das mãos
Aquelas mãos que acariciam, mas que também sufocam
Que apertam e impedem a liberdade
De respirar e sentir a vida em suas mãos
Desfaça o nó
Use suas mãos
E respire o novo
Sinta a vida
E seja feliz!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Um Encontro

Despretensioso
Um encontro
Dois em busca de...
Despretensioso
Um jantar
De carne
De olhar
De buscar
De tentar
Adentrar
No carro, bastou uma palavra
E uma meia volta
Para tudo mudar
O que poderia terminar com um boa noite
Muda como o luar
Chega despretensioso
Produz arrepios
Arranha a carne
Arranca suspiros
O coração pulsa
O carro estaciona
Sob os olhares do ciclista
Gira a chave e sai...
Na garagem uma pegada
Dois pulsantes
Um jato
Um grito
E uma noite
"A noite é uma criança"
Para os amantes
Despretensiosos
Uma emoção
Contagiante
Que arrepia...
Só de pensar!
Até o próximo
É só ligar a chave
E estaremos lá...
Despretensiosos
Comer com os olhos
O prato da vida
Que contagia
E que nos deixa extasiados
Que delícia!!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Desilusão

As desilusões são tantas
Tonteiam meus pensamentos
Ferem minha alma
E me fazem chorar

As desilusões são tantas
Emagrecem meu frágil corpo
Pincelam a dor
Entristece meu mundo

As desilusões são tantas
Agridem meu olhar
Abrem feridas incuráveis
Jogam uma pá de cal

As desilusões são tantas
Que ao longe o coração bombeia em desequilíbrio
As asas perdem as forças
E a ave tomba
Em meio a tantas estrelas frias.

terça-feira, 22 de março de 2011

Luz

Quando as luzes se apagam
Só assim eu me vejo
Só assim eu me entendo

Quando as luzes se apagam
O mundo fica pequeno
As pessoas desaparecem

Quando as luzes se apagam
Tudo se torna em mim
Cresço e me ilumino

Quando as luzes se apagam
Só assim eu me entendo
Só assim eu me vejo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Passarela 7 - olha ela de novo !

Olha a passarela 7 aí, gente!!

Bem, ela até que avisou no mês passado quando deixou cair parte do seu reboco sobre um carro, sob os olhares de nossos administradores municipais. Felizmente, não houve perda humana, apenas material para o proprietário do veículo, além do enorme susto.

Após o "acidente anunciado" uma perícia da Secretaria Municipal de Obras decidiu pela demolição da mesma, mas devido ao processo burocrático de uma licitação, a demolição ficou em aberto... Sabe-se Deus até quando.

Como ela, a passarela, não tinha sangue de barata, não estava brincando e cansada de esperar por seu pouso eterno em um Lixão Extraordinário, por não mais suportar essa vida de carregar o peso de tanta gente que, diariamente, circula por seu esqueleto tão doente e querendo, a todo custo, que dessem cabo à sua vida, o mais rápido possível, resolveu emanar uma energia destrutiva. Talvez tenha sido essa energia que provocou o defeito na barra de direção do coletivo da empresa Caravele, conforme dito pelo motorista a uma enfermeira no hospital em que está internado, já que sabemos que todos os ônibus que circulam diariamente por nossas ruas, avenidas e estradas estão em perfeito estado de conservação e manutenção.

Os supersticiosos de plantão poderão fazer uma conexão e apontar que a Passarela 7 estava em seu ponto limite: para ela a morte já estava anunciada, então, por que não deixar sua marca 7 registrada de uma forma mais pontual?!

Nesse caso, como se diz por aí, "SE" ela já tivesse sido demolida, o coletivo não a teria alvejado na madrugada do último domingo. As consequências desse acidente poderiam ter sido outras, quem sabe, mais amenas, já que dos feridos apenas o motorista do ônibus, José Maria, está em estado grave, onde além da fratura do fêmur de uma perna, teve a outra amputada e ainda sofreu um infarto no local do acidente, também não era para menos! E, ela, a passarela, não deixaria tantos transeuntes órfãos até a construção da nova.

Sugiro que a passarela substituta, pois a atual foi demolida ontem, não seja identificada pelo número 7: vai que seja uma maldição do número 7 ?!

Acho que o nosso Cristo (de braços abertos) ainda está em estado de torpor.

Que Deus nos acuda!!

Obs.: faço referência às crônicas Passarela do samba X Passarela 7, postada no dia 08/02/2011 e Um Rio que se esvai..., postada no dia 07/02/2011.

sábado, 12 de março de 2011

"As rosas não falam..., mas exalam o seu perfume..."

A bola gira
A tsunami chega
Carrega tudo o que encontra à sua frente.
Cartola,
O sorriso sempre presente
Com seus versos,
Belos.
Que nos trazem o amor, da forma mais genuína
Um acalanto em um dia devastado pelas ondas do mar revolto
Que nos deixam reflexivos quanto às agruras do meio ambiente...
"As rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti".
Quero sentir seu perfume!

terça-feira, 8 de março de 2011

Basta um dia !

São tantas as vontades
De carinho
De afago
De chamego

Em pleno carnaval
No sambódromo carioca, paulistano
Não importa onde
Nas ruas de qualquer lugar

De lugar nenhum
Basta o pensamento
Um click
O prazer à flor da pele

Está sentido
Está dito
Basta um coração
Alegre ou triste

Uma vontade
Para se ganhar o dia
O dia para se fechar no quarto
E ter o que é seu.

Tiro certeiro !

Uma palavra
Veio como tiro certeiro
Deflagrou o mutismo
Deixou no ar a frase

Tudo veio à tona
Menos a palavra
Afogada em mil gotículas
Revisitada no alcoolismo

A palavra morta
O som abafado
O olhar sem esperança
Corpos enterrados.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Limão, meu limoeiro !

Do limão retiro a vitamina C
O espinho deixo no galho
O amor me deixou em frangalhos
Que bom que tenho um litro de mel

Quanta saudade dos tempos
Que podia colher o limão lá no pomar
Agora ele me é servido guela abaixo
Sinto o seu azedume

Que arranha minhas entranhas
Que deixa marcas sufocantes
E uma solidão que mesmo uma colher de mel, do mais puro
Não é capaz de curar.

Tatiana e seu emaranhado!

Tatiana é uma moça muito bonita. Morena, 23 anos, 64 Kg, 1,70 m de altura - um verdadeiro avião. Tem os cabelos lisos, pretos e super bem cuidados. Sua pele é limpa, sem sinais de acne tão comum nos jovens, olhos esverdeados. Muito vaidosa. Passa horas cuidando dos cabelos, unhas que mantem sempre cutiladas e pintadas. Gosta de se vestir como uma princesa. Seus pais, na medida do possível, procuram presenteá-la com roupas, adereços, bolsas e sapatos da moda.

Ela mora com os pais e dois irmãos em Caxias, na baixada fluminense. Terminou o ensino médio, mas não conseguiu passar no vestibular para educação física. Seus pais não puderam pagar uma faculdade particular. Diante desse cenário se inscreveu em um curso de secretariado e logo após o seu término foi chamada para uma entrevista para o cargo de recepcionista de um hotel na zona sul do Rio de Janeiro.

Foi entrevistada por um senhor, muito distinto, de mais ou menos 50 anos. Já saiu da entrevista tendo a confirmação de que a vaga era sua e que deveria iniciar no dia seguinte. Ela percebeu que sua beleza foi fundamental na confirmação da colocação. O entrevistador a elogiou várias vezes, em especial os seus cabelos, que estavam como sempre bem escovados, lisos e com um brilho que irradiava à distância. No final da entrevista soube que o senhor Osvaldo, o entrevistador, seria o seu chefe imediato.
Ela ficou contente em saber, pois ele pareceu ser muito educado, elegante, muito profissional. Saiu da entrevista em êxtase, não só porque conseguiu um emprego, mas pelos elogios recebidos.

Para voltar para casa, pegou um ônibus da zona sul para a Central do Brasil e de lá, um outro para Caxias. Sentou-se em sua cadeira e olhando pela a janela... começou a fazer planos com o salário que iria receber: primeiramente, compraria alguns itens para substituir os que ainda faltavam em seu guarda roupa, depois um presente para os pais e irmãos - pensou em uma televisão nova para assistirem com maior nitidez a próxima edição do big brother. Quanto ao retorno aos estudos... pensaria depois, sabe como é, precisava descansar, afinal foram anos e anos de estudo.

Como a tarde estava muito quente, todos os passageiros do coletivo viajavam com as janelas abertas para o ar circular e assim, amenizar o calor. Ela viu que o termômetro lá na Central marcava nada mais, nada menos que 39 graus. Um verdadeiro inferno!

Durante todo o trajeto pensava no que iria vestir no seu primeiro dia de trabalho. Uma coisa estava certa: tinha que arrasar no visual! Pensava também no que iria fazer com o seu salário.

À sua frente, na cadeira do ônibus, estava um casal. A mulher sentada próxima à janela e o homem ao lado da mulher, próximo ao corredor. O banco ao lado de Tatiana permaneceu vazio durante todo o trajeto. Em determinado momento da viagem ela percebeu que o rapaz tirou algo da boca e jogou pela janela. Enquanto isso, Tatiana permanecia em seus devaneios.

Ao chegar ao centro de Caxias, no ponto final do ônibus, desceu e passou a perceber que muitas pessoas olhavam para ela, o que não era incomum. Ela era uma morena de parar o trânsito, como se diz por aí!!

Andou três quarteirões até chegar em casa. Entrou e foi até a cozinha contar a novidade para sua mãe, que se manteve estática, enquanto ela falava sobre o acontecido. De repente, Tatiana percebeu que algo estava errado e perguntou:

- Mãe, o que está acontecendo?
- Por que está me olhando desse jeito?

A mãe, depois de engolir seco, disse:

- O que aconteceu com seu cabelo, minha filha?

Ela, sem entender nada disse:

- Nada mãe. Não fiz nada. Ele está como sai de casa hoje pela manhã. Acho até que consegui a vaga de emprego por causa dele. O seu Osvaldo, meu chefe, elogiou muito os meus cabelos!

Então, a mãe disse:

- Vamos ao banheiro para que possa ver o que aconteceu com os seus cabelos.

Ao chegar em frente do espelho, Tatiana desmaiou. Sua mãe a segurou e gritou pedindo ajuda ao outro filho.

Levaram Tatiana para o quarto e colocaram amônia para ela cheirar. Tatiana acordou e começou a chorar copiosamente. Sua mãe e irmão tentavam consolá-la.

Infelizmente, Tatiana precisou cortar a sua cabeleira. Tentaram várias medidas para evitar tal radicalismo, todas em vão!

Tatiana ficou calada, triste, desde então. Não saía do seu quarto. Não retornou no dia seguinte para o primeiro dia de trabalho no hotel.

Seus planos foram emaranhados em seus cabelos e definitivamente jogados no lixo, juntamente, com o chiclete que foi atirado pelo rapaz ... lá no coletivo, mas que saiu pela janela da frente e voltou para ônibus, pela janela em que estava Tatiana, formando um emaranhado sem tamanho em seus cabelos e em seus sonhos, que por ora, enquanto não crescessem, ficariam depositados em um Lixo Extraordinário dessa nossa cidade.

quinta-feira, 3 de março de 2011

No hospício!!!

Às 7:00 horas, Marina e Sueli, enfermeiras, receberam o plantão em uma enfermaria feminina de um hospital psiquiátrico. Depois de resolverem toda a parte burocrática - conferência de pacientes, material, leitura do livro de ocorrências, verificação das prescrições e orientações referentes a cada cliente - começaram a encaminhar as pacientes que iam acordando ao refeitório para o café da manhã, administração de medicação e, posteriormente, ao banheiro para a higienização matinal, auxiliando aquelas que necessitavam de ajuda para se vestirem, se pentearem etc

A maioria das pacientes já eram conhecidas, pois vinham de internações longas, como a Rita que se mantinha sempre distante das outras clientes, porém enquanto estivesse acordada estava sempre ao lado das profissionais de enfermagem.

Esse não era um problema. A questão é que ela não parava de falar, quer dizer, de insistir com a mesma pergunta, até que a respondessem, quando formulava uma nova frase correlacionada a anterior.

Mais tarde, enquanto Marina auxiliava o banho de uma das pacientes, Sueli preparava a medicação das 14 horas. A paciente Rita permanecia de prontidão na porta do posto de enfermagem fazendo suas perguntas, sempre de forma insistente e usando uma verbalização ritmada, cadenciada. Rita perguntava:

- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?
- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?
- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?
- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?
- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?
- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?

A enfermeira Sueli resolveu responder:

- Tem Rita. Esse hospital tem ambulância!

Rita, como era de se esperar, passou para outra pergunta:

- A ambulânnncia faz baruuuulhooooo?
- A ambulânnnncia faz baruuuulhooooo?
- A ambulânnnncia faz baruuuulhooooo?
- A ambulânnnncia faz baruuuulhooooo?
- A ambulânnnncia faz baruuuulhooooo?
- A ambulânnnncia faz baruuuulhooooo?

Mais uma vez, a enfermeira Sueli respondeu:

- Que barulho você quer que a ambulância faça, Rita?

Ela respondeu:

- Ioonn, ioonn, ioonn, ioonn, ioonn...

Nesse momento, entra no posto de enfermagem a enfermeira Marina e diz o seguinte:

- Rita, a ambulância do nosso hospital não faz ion, ion, ion.
- A ambulância do nosso hospital faz piru, piru, piru...

E a Rita retrucou:

- Essa não seeerrrve. Ela é taradaaaa!!!

terça-feira, 1 de março de 2011

O barato da barata

Um casal de amigos combinou de ir ao teatro. Uma comédia onde a temática é a relação entre um homem e uma mulher em que os podres da relação começam a ser expostos - o que era para ser para sempre... está com os seus dias contados.

Bem, voltando ao casal de amigos: tudo combinado. Ela passaria em frente ao prédio dele para pegá-lo e iriam no carro dela para o teatro.

Para agradecer ao convite ela resolveu presenteá-lo com um bolo que ela mesma fez e meia dúzia de tangerinas vindas diretamente do sítio de seus pais, sabendo de antemão que ele gosta tanto da fruta quanto do bolo. Coloca-os em uma bolsa de uma grife famosa. Ao chegar à garagem coloca a bolsa no chão do seu carro, atrás do banco do motorista. Entra no carro. Liga o rádio. Está contente, pois há muito tempo não via esse amigo de quem ela gosta tanto.

Ao chegar em frente ao prédio, liga para ele que solicita que ela suba, pois ainda não está pronto. Ela estaciona o carro, pega a bolsa com o pequeno agrado e sobe. Ele abre a porta abotoando a camisa e, em seguida, vai até o corredor que dá acesso aos quartos e banheiro, abre a porta do armário e retira um par de sapatos. Ela aproveita e entrega a bolsa com o presente. Ele mostra-se muito contente, abre a bolsa e retira uma tangerina.

Nesse momento, a amiga vê uma barata na lateral externa da bolsa, exatamente sobre a inscrição da logomarca famosa. A barata desce, cai no chão e entra no quarto de seu amigo, antes que pudesse ser pisoteada. Foi tudo muito rápido.

Ele entra em desespero.

A barata entra embaixo da cama o que aumenta o descontrole do amigo que vai ao banheiro e volta com um frasco acionando-o em direção ao espaço entre a cama e o chão.

Ele começa a gritar:

- Na minha casa nunca entrou esse tipo de barata.
- Você trouxe esse inseto asqueroso para a minha casa.
- Você tem que matá-la!

Ela fica em uma situação muito desconfortável, em uma verdadeira saia justa, que era o que ela estava usando: saia justa preta, uma blusa branca com babado e lógico, uma sandália de salto bem alto.

Nesse momento ele já não grita, ele berra!

- Você tem que matar essa barata!
- Não conseguirei dormir se souber que ela pode estar viva aqui dentro da minha casa, em especial no meu quarto.

Enquanto isso, continuava a acionar o frasco do suposto inseticida.

Na tentativa de acalmá-lo, ela pediu para ele se retirar. Foi quando ela percebeu que ao invés de pegar o frasco de inseticida, seu amigo pegou o frasco de creme de barbear e lançou todo o conteúdo embaixo da cama, que ficou um verdadeiro tapete branco, parecia neve, uma neve escorregadia.

Constatando a troca, ele trouxe o inseticida e aplica em direção à cama.

Seu amigo estava transtornado!

Ela, então, pediu para que ele fosse para a sala.

O chão do quarto estava um horror: molhado, escorregadio, com um cheiro forte de inseticida. Ela, primeiramente, abriu a janela. Em seguida, retirou as sandálias, pulseiras, anéis, prendeu os cabelos. Puxou a cama e conseguiu visualizar a barata que estava visivelmente intoxicada, mas viva, atrás da cabeceira da cama.
Ela matou a barata com uma chinelada e com um lenço de papel retirou o inseto morto, jogou no vaso sanitário e acionou a descarga.

O amigo continuava na sala, andando de um lado para outro e perguntando se ela já tinha matado a famigerada barata, o que foi finalmente confirmado por ela. Seu pânico era tanto que ele não acreditou, levantando dúvida sobre a morte do inseto.

Ela pegou um pano de chão, rodo e começou a limpar toda a lama que se formou com o creme de barbear e o inseticida. Quanto mais ela limpava, mais espuma se formava. Depois da faxina inesperada, ela estava suada, descalça, o cabelo despenteado...

O amigo pegou a bolsa com o presente e jogou na lixeira do prédio.

O clima ficou tenso. Ela tentou se desculpar, dizendo que a barata não estava nem no bolo que foi embalado por ela minutos antes de sair de casa, nem nas tangerinas que ela pegou uma a uma para colocar na bolsa que estava guardada em seu armário. A conclusão que chegou é que a barata só poderia estar no carro e entrou na bolsa no trajeto da casa dela até a dele.

Diante de toda a situação ela sugeriu cancelar o teatro, mas ele, ainda transtornado, disse que não. Afirmou que não iria mais no carro dela e sim no dele. Ela, na tentativa de amenizar todo aquele desconforto, concordou.
Pediu uma toalha, tomou um banho e tentou se arrumar como antes de toda aquela confusão, mas o brilho da noite havia desaparecido.

Na garagem, ao sair com o carro, ele arranhou a lateral na pilastra, o que aumentou ainda mais a tensão.

Ela estava torcendo para a hora passar. Não conseguiu prestar atenção na peça. A noite ficou sem graça.

Finalmente, ao saírem do teatro, na calçada de uma rua famosa da Zona Sul carioca, no bairro de Ipanema, uma barata gigantesca veio em direção aos dois que saíram correndo e ele, como era de se esperar, ficou cego de raiva, esbravejando e completamente desnudo diante de um simples inseto repelente.