quinta-feira, 3 de março de 2011

No hospício!!!

Às 7:00 horas, Marina e Sueli, enfermeiras, receberam o plantão em uma enfermaria feminina de um hospital psiquiátrico. Depois de resolverem toda a parte burocrática - conferência de pacientes, material, leitura do livro de ocorrências, verificação das prescrições e orientações referentes a cada cliente - começaram a encaminhar as pacientes que iam acordando ao refeitório para o café da manhã, administração de medicação e, posteriormente, ao banheiro para a higienização matinal, auxiliando aquelas que necessitavam de ajuda para se vestirem, se pentearem etc

A maioria das pacientes já eram conhecidas, pois vinham de internações longas, como a Rita que se mantinha sempre distante das outras clientes, porém enquanto estivesse acordada estava sempre ao lado das profissionais de enfermagem.

Esse não era um problema. A questão é que ela não parava de falar, quer dizer, de insistir com a mesma pergunta, até que a respondessem, quando formulava uma nova frase correlacionada a anterior.

Mais tarde, enquanto Marina auxiliava o banho de uma das pacientes, Sueli preparava a medicação das 14 horas. A paciente Rita permanecia de prontidão na porta do posto de enfermagem fazendo suas perguntas, sempre de forma insistente e usando uma verbalização ritmada, cadenciada. Rita perguntava:

- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?
- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?
- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?
- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?
- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?
- Esse hospital tem ambulânnnciaaaa?

A enfermeira Sueli resolveu responder:

- Tem Rita. Esse hospital tem ambulância!

Rita, como era de se esperar, passou para outra pergunta:

- A ambulânnncia faz baruuuulhooooo?
- A ambulânnnncia faz baruuuulhooooo?
- A ambulânnnncia faz baruuuulhooooo?
- A ambulânnnncia faz baruuuulhooooo?
- A ambulânnnncia faz baruuuulhooooo?
- A ambulânnnncia faz baruuuulhooooo?

Mais uma vez, a enfermeira Sueli respondeu:

- Que barulho você quer que a ambulância faça, Rita?

Ela respondeu:

- Ioonn, ioonn, ioonn, ioonn, ioonn...

Nesse momento, entra no posto de enfermagem a enfermeira Marina e diz o seguinte:

- Rita, a ambulância do nosso hospital não faz ion, ion, ion.
- A ambulância do nosso hospital faz piru, piru, piru...

E a Rita retrucou:

- Essa não seeerrrve. Ela é taradaaaa!!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótima crônica, Márcia.
Paciente da hora, essa do mantra.

Lecy