terça-feira, 28 de julho de 2009

Dengue

Quanta dor!
Quanta agonia!
Nos olhos – o pavor!
A comoção é geral.
A impotência reina, inclusive a sexual.
O mosquito listrado, malandro carioca, cresce em alta escala,
assim como a inflação e a escassez de alimentos...
em meio a tanto descaso.
Pica suas vítimas: o branco, o preto, o rico, o pobre,a criança, o velho,
a gestante e de quebra – o feto, o artista
e o famigerado político que faz festas com o dinheiro retirado da saúde e educação - de nossos bolsos.
E os necessitados?
Atônitos (nas tendas)
em busca de solução (venosa?)
em meio aos tiroteios...
se jogam no chão.
O caos toma conta.
A inoperância é desnuda e
o medo a perder de vista.
Socorroooo !!!!
Virá?
Ou permaneceremos jogados à própria sorte, mesmo vestindo calça comprida, meias e sapatos fechados (todos na cor laranja) ?

Agora

Enfim o encontro!
O rosto tantas vezes
visto na multidão...
era só miragem!
Por longos anos escondido...
entre faces, entre mares.
Você tão perto, tão longe!
E eu, sempre a procurá-lo...
entre tantos atalhos,
entre os carros, entre os olhares,
entre lágrimas, entre mares...
E agora?

Sua verdade

Cedo ou tarde,
entre os muros da verdade,
entre os olhares...
somente seus!
Cedo ou tarde,
sem trégua,
como flecha...
Você, você, você
e mais ninguém.

Felicidade

Felicidade...
Que deixa o mundo inquieto,
Instigado, entregado
Prostrado aos pés...
Da flor, do penhasco.
Que derrete a geleira,
Do coração amarrado.
Que deixa o homem atônito,
Boquiaberto,
Devaneando um bocado.
Olhos estatelados
Gritando aos sete mares:
O que é isso ?
Minha argamassa exposta,
Meu coração aliviado.
Que sabor é este:
Misterioso, gostoso, simples
Só agora senti...
Só agora sou feliz !

Eu e você

A qualquer distância
Sinto o seu cheiro
Seu beijo doce
A qualquer hora do dia, da noite
Meu corpo treme,
O coração acelera
Estou com você.
A qualquer momento
Sigo meus pensamentos
E vou até você...
Tudo se apaga
Ou passa despercebido
Menos eu e você.


Márcia Juannes

Pétala

As crianças sumiram,
as pétalas caíram,
as borboletas voaram
e meu coração foi despedaçado.
Sentei-me no muro...
e não fui amada!

Central do Brasil

Cada ser desconhecido
no coletivo trem da Central do Brasil.
Cada qual com seu bem,
cada qual com seu mal.
Em cada olhar calejado
Apenas o silêncio...
como o silêncio
dos peixes...
que apenas observam...
guardam em seu interior:
o mar e nós: a vida!

Nada

Um menino...
sua voz oculta nas ruas
o som esquecido.
Nada tem razão,
faz sentido.
Em vão a chuva cai...
sem som...
sem cor...
sem vida...
sem amor.
E assim o menino adormece...
calado,
oculto,
entre os viadutos...
envolto às folhas escritas...
e assim também acorda e
outra vez...
nada faz sentido!

Léguas

Essa gente simples...
que trabalha,
que anda léguas,
que come arroz, feijão e rosca.
Que sua!!!
Que tem a casa de pau-a-pique
e no quarto apenas uma esteira.
O homem trabalha com a cana
e a mulher,
a procriar,
a aceitar as ordens,
a servir o café açucarado e fraco.
Atrás dela a escada que cuida com carinho...
seus meninos!
E aí,
chega a cidade
e rouba-lhe a ferramenta...
seu instrumento braçal.
Mas o homem não aceita tal desafio
Atira e mata !
Seus meninos choram.

Márcia Juannes

Lacre

Abra o lacre
Derrame toda a doçura
Deixe-se espalhar
Pelos cantos,
Pelos mares,
Pelos muros,
Pelos olhos,
Pelo corpo (em pêlo ou não).
Caminhe sem medo, neuras, culpas.
Somos o que queremos ser
E ainda que não,
Devemos ser íntegros
E buscar nossa felicidade ...
Sempre !
Abra o lacre
Deixe-se derramar
Irradie essa doçura
E com ela embriague a todos...
Todos que, andando com suas próprias pernas, possam perceber, sentir e usufruir do seu mel.

Olhar

Vida estressante ?
Sentimentos,
Reflexão.
Mundo gira ...
Gira mundo ...
E o coração a pulsar
Cada um no seu ritmo
Uns batem mais calmos
Outros acelerados
Em razão da crise
Em razão do esforço
Em razão do amor
Não importa o motivo
O importante é saber que a vida é bela
Que basta uma palavra
Um aperto de mão
Um pedaço de pão
Ou simplesmente um olhar
De tesão,
De tensão,
De arrependimento.
Há de ser profundo
Aquele que vai até o Japão
Sem nunca ter entrado em um avião.
Há de ser profundo
De coração.

Márcia Juannes

Viva

Suba
Alcance
Com os seus próprios pés...
Sempre no chão.
Olhe, espie ...
Sempre à sua volta.
Se preciso corra
Sinta seus músculos,
O pulsar de sua vida.
Embriague-se com sua energia...
Dê-me um gole.
Suba mais!
Cresça !
Compartilhe !
Envolva-se
Descubra-se a cada dia.
Instigue!
Crie criaturas,
Estimule os pensamentos.
Acompanhe
Deixe-se acompanhar.
Suba mais um pouco
Tendo sempre em suas mãos os seus sentidos
Acompanhe os meus sentidos.
Mantenha-se firme,
Visualize o mundo à sua volta...
Ele é todo seu!

Sexto sentido

Seu sexto sentido
apontou meu sorriso,
ainda que artificial.
Desde então os mistérios
tantas vezes sentido,
ainda que sem sentido,
mas percebido em um olhar lateral.
Depois de tanto pensar
veio o pedido: um abraço e ...
Meio sem jeito, como um cristal,
sentimos o gosto um do outro e
selamos o nosso destino:
Apenas quando livres e
no momento certo.
Que venha a felicidade!

Dama da noite

Quero sair...
Buscar novas entranhas
Buscar o tudo,
Sentir o nada.
Andar de madrugada
Falar sozinha
Pintar o muro
Mudar de lado
Sentir a dama da noite
Tomar o vinho,
Olhar o infinito
Buscar você...
Deixá-lo livre.
Deixar-me de lado
Jogada no sofá
Envolta aos pensamentos
Às tormentas,
Às poesias,
Ao silêncio,
Às canções,
Às cores.
Sentir o corpo trêmulo, ardente.
Depois sair para o nada
Olhar as montanhas,
Deitar no pasto.
Esquecer a multidão, os compromissos,
Jogar fora as esquisitices,
Depois acordar revigorada !
Quanto ao resto e mais um pouco ...
Deixá-los passar.

Certeiro

Certo.
Certeiro.
Tomando forma...
Em nosso imaginário.
A cada segundo,
Como agulha em um palheiro,
Ainda sem definições
Apenas um esboço
Entregue ao nosso destino
“Que só a Deus pertence”
Mas que temos a obrigação de acompanhar,
Desenvolver, buscar.
Sempre no imaginário...
Com contornos,
Entre formas abstratas...
Nossos corpos,
Nossas mentes inquietas,
Olhando...
Torcendo mais que todo o Maracanã,
Para que juntos
Possamos viver um grande amor:
Verdadeiro,
Cúmplice,
Companheiro,
Inteligente,
Vivo.

Márcia Juannes

domingo, 26 de julho de 2009

Piscadela

A cada piscadela
Um sopro,
Um sussurro,
Um arrepio,
Um aperto...
No escondidinho
No escurinho,
Apesar de roubado, surrupiado... é sempre muito gostoso !
A cada piscadela um carinho se vai,
Às vezes volta retribuída,
Pois não existe garantia.
A piscadela é livre, pessoal.
Então sugiro aproveitarmos cada uma...
Atentos a todas as luzes do dia, da noite, mesmo com os olhos cerrados.

Trema

Dois pingos
Paralelos
Quase unidos
Na vida...
Faltou um traço
Um rato
Quem sabe o quê ?
Dois sinais:
Trêmulos,
Abstêmios ?
Agora não importam os sinais,
Não importa o rato,
O traço...
Perderam o trono.
Agora sinais apagados,
Sem vida
Retirados da língua
Felina,
Bela,
Poética.
Não importa...
Se belos ?
Se bobos ?
Dois pingos, agora, sem vida em nossos dicionários ...
Ainda que presentes
Em nossos livros,
Em nossa memória.

Márcia Juannes

Passos em compassos

São tantos os compassos
Entre passos,
Entre saltos,
Nas calçadas,
No asfalto, apesar de quente, áspero
Passo a passo,
Em compasso
Entre trilhos,
Nos dormentes
Segue o passo...
Em compasso
Entregue à beleza
Do seu passo.
Será que posso ?
Ou que passo ?

Pássaro

Da janela,
Avisto o pássaro...
De asas brancas,
De peito enfático.
Cuidado !
Olha o vento,
Ainda manso,
De remanso,
Em suas penas.
Venha vento!
Traga o pássaro
Esguio,
Sempre enfático.
Venha vento!
Traga o pássaro,
Com suavidade
Para aquecer meu coração
Que anda confuso,
Desde então.

Márcia Juannes

Explosão

Um corpo
Um canto
Um copo
Um gole do líquido mais nobre
Cultivado em solo pobre
Extraído da uva mais negra.
Das ordens - quanto ironia !
Do sangue ...
Brotar o vinhedo
Do vinhedo brotar o trigo, o pão.
Do cego a bolha,
o explodir...
Trazendo alegria.
Um canto
Dois copos de fino trato
Um gole, dois goles
Um beijo,
Selando dois corpos,
provocando o grito,
o prazer.


* inspirado no livro "Champanhe: como o mais sofisticado dos vinhos venceu a guerra e os tempos difíceis"

sábado, 25 de julho de 2009

Geometria do Amor

Nos quatro ângulos do quarto
Buscarei você em linha imaginária
e o farei penetrar em uma bissetriz.
Em cada segmento, o trajeto se torna
mais ofegante e desejado.
Em cada raio de seus olhos descubro um ponto
que nos levará a conhecer o nosso conjunto verdade.
Enfim, as retas se coincidem:
é a nossa realização!

Linha linhada

Linha
Linhada
Linha que prende
A ferida.
Linha que solta
Das mãos.
Linha que alcança
Objetivos.
Linha que expõe a morte ou a vida longa
Morte/Vida/Vida/Morte.
Linha que rasga
O tecido,
Deixando à mostra a carne crua...
Negra, branca
Linha que costura
O tecido
Faz sentido ?
Seguir a linha da vida,
Tecer a cada dia,
Enrolar,
Desenrolar,
Descarrilhar,
Puxar,
Prender e depois soltar...
A vida das mãos.

Lua Enquadrada

Lua enquadrada
Em meio às nuvens,
Em meio às arvores ...
Enquadrando nossos olhares,
Nossos desejos,
Mais sentidos,
Mais sinceros.
Criando laços,
Revelando nossos mistérios,
Seus mistérios,
Meus mistérios.
Espalhando poesia,
Pincelando felicidade,
Revelando nossos sonhos,
Acariciando nossa pele,
Clareando nosso chão,
Revirando nosso íntimo,
Expondo nossas marés,
Revelando nossa alma,
Iluminando nossa aura.
Sempre de lá...
Do alto,
Majestosa,
Plena,
Bela !