segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Um Rio que se esvai...

Um Grande Rio que se esvai pelas labaredas que lambem e sugam os sonhos de um povo que ultimamente anda entre o fogo, a água e as armas.

Tantos acontecimentos que deixam o carioca boquiaberto, tamanha a magnitude dos fatos. Tantas armas recolhidas, drogas produzidas e escondidas nas paredes das casas dos homens de vida comum - obrigados, anos a fio, a manterem a boca fechada, a conviverem com o crime e a falta da presença do Estado em um território até então, destituído, obrigados a verem seus filhos crescerem num ambiente hostil, onde poucos resistiram as benesses da criminalidade, do ócio e das drogas.

Um povo que assistiu pela tv um exército se espalhando, correndo em desvario, no topo do morro, onde muitos de seus soldados escaparam pelo esgoto, como ratos, como figuras medonhas que eram e são, e, que estão hoje, sabe-se Deus onde (outras terras, outros mares, outros esgotos, outras comunidades - quem sabe !?).

E a cidade, ainda assustada, mal começava a dormir após dias e dias de inacreditável constatação, é tomada, mais uma vez, por uma enxurrada, que varreu bairros inteiros, sem dó ou piedade, que não escolheu a classe social, pois estavam lá, entre os escombros, corpos brancos, pretos, mal vestidos, bem vestidos, sarados, nutridos, anêmicos, crianças, jovens, velhos, adultos, animais e além, de tudo, muitos sonhos, muitas histórias enterradas, outras cortadas para sempre, sem qualquer chance de reconstituição. Um momento de muita dor e reflexão.

Hoje, acorda o povo carioca, sentindo cheiro de fumaça, e assiste as labaredas varrerem os sonhos e trabalho de um ano de muitas pessoas que prometem e objetivam transmitir a alegria, não só para o carioca, mas para o mundo...

A fumaça avança e se espalha pelo céu azul desse Rio, que tem o Cristo de braços abertos abençoando a todos nós. Acho que ultimamente Ele anda cansado, ou pode ser por causa do calor, que está tão intenso que anda cozinhando os miolos do carioca e os dele também, pois, lá, estático, sem um chapéu, ou qualquer proteção, está totalmente exposto à desidratação e por conseguinte, vulnerável a deixar, a nós, cariocas, a ver navios.

Enquanto o fogo destruia as fantasias de uma noite de verão, a fumaça era vista a quilômetros de distância, deixando nosso Cristo entorpecido e nós, cariocas, mais uma vez, boquiabertos.

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